14 de setembro de 2009

A Chuva

O amarelo queima o azul-marinho, que voa até o azul-celeste, suicidando-se transparentemente, penetrando o marrom, sugado pelo verde, comido pela moça cor-de-pele, transformando-se em energia incolor, espera.
Espera.
De tanto querer ser cor, foge pelos olhos verdes que, tristes, enxergam cinza a lágrima ser roubada pela mão desconhecida, de palma branca aberta e costas morenas queimadas por aquele mesmo amarelo.
Espera.
Ela finalmente abre os dedos de pétala e é regada pela ex-lágrima que pousou na mão portuária dele. As linhas-da-vida inundam-se juntas como ruas secas que viram lagoa e encontram-se como lagoas que viram mar.
Ela, já sem enxergar cinza, já sem esperar cor, aflora:
– Me chamo Rosa








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Ricardo Esquina





A Chuva caiu em um lixo vazio que, na hora, me pareceu uma caixa de correio que só entrega cartas aos pobres.
"Ela me pediu uma cópia da chave milhares de vezes
Finalmente, eu fiz

Ela pegou nas mãos
Olhou para a chave
Olhou para mim
E me trancou aqui dentro

Sozinho




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Ricardo Esquina







 
Sozinha, abandonada, no viaduto da Carlos Gomes com a Nilo.

12 de setembro de 2009

"Uma mulher que nem em verso espera por rima nenhuma

   
Vestida só em seu vestido
Vem ela vindo

"Descasada por puro descaso!"
"Casada está é com o acaso"
Boatos dançam valsa na boate

Passa pela porta em decididos largos passos
Só para parar no meio do salão, ainda só
Tornando-se um fenômeno impressionante, mas intocável, como um tornado

Prende os pensamentos de suas presas
Quero-queros há aos montes, mas é um morcego que ela quer
Sobre todos, pairam suas avaliações sóbrias





Esperam sua decisão desesperados





Seus olhos param só sobre os teus
Assim como quem te diz: sim

Caminha, mirando-te todo o caminho
Chega em sua própria imagem no teu globo ocular, sem medo, como se fosse cega
"Lava teu babador e me fala sobre ti, antes de eu te levar"

Apartamento grandioso, mas ela se dirige direto ao terraço apertado
Apenas uma cama, a lua e dois travesseiros de pena

Põe uma música leve e vem dançando até ti, "Por que não te deita?" – perguntando, impõe
Doma-te nos lençóis até quando se deixa dominar
Desenha as tuas posições como se ela jogasse xadrez e tu dominó, da vergonha, é desdenhosa

(Manhã de amanhã)
Peitos macios e perfeitamente pesados pousam sobre tuas mãos, enquanto ela olha a praia no parapeito
Desliza teus dedos naquelas curvas de pele lisinha
Aproveitando a textura desse corpo despido, aos outros proibido de até com os olhos provar
Prova real na parte interna das coxas da musa que, feito música, deixa-se aproveitar

Bebendo seu café preto, ela vira pra ti e diz: "A sua noite acabou, baby"

Vestida só em seu vestido
Vai ela indo






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Ricardo Esquina















 
Uma mulher que nem em verso espera por rima nenhuma,
nascendo.
 
Primeira Clandestina.
Uma mulher que nem em verso espera por rima nenhuma, vestida de vermelho, indo pra noite. Deixei ela na Looks Like POA, num balcão, caçando a presa da noite.

O Caderno Azulado

 

2 de setembro de 2009

"Alô, som

Ecografia desse bebê que tá nascendo
Desse plano querendo ser redondo
Pássaro ensaiando voo
Vovô ensaiando passo


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Ricardo Esquina